domingo, 24 de maio de 2009

Carta ao bebê


"Bebê,


Confesso que quando soube da sua existência o meu mundo desabou. Jamais imaginei esse rumo para a minha vida, ser mãe solteira aos 20 anos, sem ao menos ter uma faculdade ou coisa assim. Não vou esconder que pensei em tirar você de dentro de mim, pois esse é um dos fatores que hoje em dia me fazem te amar mais do que se você fosse planejado. Mas essa insana idéia foi passageira, eu sempre soube que eu jamais teria coragem de tirar a vida de alguém, sobretudo do meu filho. E não demorou muito para que brotasse esse amor puro e colossal dentro de mim. Um amor que é tão grande que não dá para explicar...

Logo depois eu fiquei com medo de perder você, afinal, Deus poderia muito bem me castigar por ter cogitado a hipotese de tirar você... Passei mal e fui correndo pro hospital, com o coração saindo pela boca. Mas pelo contrário, estava tudo ótimo e eu podia até ouvir seu coração. Foi quando vi você pela primeira vez. Tão pequeno e sem forma, mas já possuia um coração que batia tão acelerado que parecia uma bateria de escola de samba. Nem vou citar a emoção que me dominou porque não há palavras que possa descrever esse momento. O mais engraçado foi ver a cara do seu pai, ficou tão espantado em saber que você já tinha coração que não conseguia parar de rir.

A partir daí o amor só foi aumentando a cada dia mais. E se antes eu não me alimentava bem, agora eu fazia isso por dois, pois sabia que você precisava de nutrientes para crescer e ficar sadio e não havia enjoo que me fizesse ficar sem comer.

A minha primeira consulta com o Dr. Jorge foi rápida. Mas percebi que apesar de estar me alimentando bem eu havia emagrecido e redobrei os cuidados na alimentação. Até os odiosos legumes entraram no meu cardápio, isso tudo por sua causa, meu amor. E eu, sempre tão cética com medicamentos passei a tomar religiosamente o ácido fólico, pois sabia que era pro seu desenvolvimento.

Sempre me peguei pensando nesse amor que havia me dominado. A maior parte do tempo eu penso em você. Em como será seu cheiro, sua voz, seu choro, se você será branco ou moreno, se você será careca ou cabeludo. A única coisa que eu sabia desde sempre era seu sexo. É estranho, mas existe algo por trás das mães que permite que elas saibam algo que somente elas podem saber a respeito de seus filhos. E eu já havia recebido esse presente. Eu sabia que era mãe de um menininho. Meu pequeno príncipe.

Da segunda vez que te vi fiquei supresa, pois não havia muito tempo que tinha visto você e você era apenas uma sementinha que possuia um coração e agora você estava todo formadinho, tão pequeno, mas com tudo...braços, pernas, dedinhos...e como mexia! Eu ainda não podia te sentir, pois você era muito pequeno. Mas a cada dia que passava sua existência se tornava predominante dentro de mim. Mas eu morri de medo, novamente, de perder você, bebê. Eu estava com descolamento de placenta e você estava com hérnia umbilical. Ah, você não tem noção do quão aflita sua mãe ficou... Fiquei uma semana deitada, repousando, sem sequer poder pegar sua prima no colo, pois eu não podia fazer esforço e pegar peso. Foi terrível, mas passamos por isso também, meu amor.

Depois de duas semanas fui submetida à outra ultrasonografia para ver se o descolamento havia melhorado e se sua hérnia havia sumido, pois era algo comum até a 12° semana gestacional. E tudo havia desaparecido! Que alívio em saber que estava tudo bem conosco. E mais uma surpresa: você havia dobrado de tamanho nessas duas semanas. Meu Deus, como você evolui rápido, meu bem.

Eu, uma mãe de primeira viagem, fiquei cheia de grilos e toda hora ligava pro Dr. Jorge desesperada, achando que determinada coisa não estava normal...e ele sempre achando graça desse meu desespero, porque tudo estava bem. Quando completei os 4 meses fui correndo no consultório dele, quase aos prantos, dizer que não sentia você mexer! Ele riu e me levou até à maca para ouvirmos seu coração... Demorou um pouco para achar você, porque você se mexia demais, mas logo depois pude ouvir seu coração, igualzinho a uma locomotiva... Que sensação esplendorosa ouvir seu coraçãozinho, bebê. E sabe o que o Dr. Jorge diagnosticou? Que estou ansiosa demais para seu nascimento e me receitou um calmante fajuto da flora. Eu apenas quero saber se você está bem.

Há pouco tempo tive a confirmação do seu sexo: um menino. Eu já sabia. Tanto é que todas as roupas que comprei para você foram roupas de menino, verde, azul, bege, próprias para menino. E você estava tão grande que fomos vendo você por partes. E eu já posso sentir você dentro de mim, como um peixinho, indo de um lado para o outro. Nadando sem parar.

Estou aguardando a data que o Dr. me recomendou para realizar a ultrasonografia morfológica. Verei todas as partes do seu corpo para saber se está mesmo tudo bem, não vejo a hora de chegar logo o dia. Sinto saudades quando fico muito tempo sem ver você...

Sabe, eu não sabia que havia espaço para tanto amor e preocupação dentro de mim. É muito bom amar do jeito que amo você, bebê. Um dia você saberá do que estou falando.


Com todo amor do mundo,

Mamãe."

sexta-feira, 15 de maio de 2009

Eu já sou mãe, sim, senhor

Na sexta-feira, antes do dia das mães, me peguei questionando se eu realmente era mãe, tudo por ter sido "barrada" na homenagem que a empresa onde trabalho estava promovendo para as mães que ali trabalham. Me senti bastante ofendida, porque jamais imaginei que uma gestante não fosse mãe. Como poderia não ser? O que seria do feto se sua mãe não se alimentasse? Se sua mãe não bebesse água? Se sua mãe ignorasse qualquer cuidado com sua saúde? E se sua mãe morresse? Simplesmente parasse de respirar...o que seria do feto? Ele saberia respirar sozinho? Óbvio que não. Talvez sobrevivesse com ajuda de aparelhos, mas com determinada dificuldade. E confesso que fiquei fula da vida, imaginando que tal idéia de me "barrar" na homenagem só poderia ter vindo de alguém que ainda não sentiu o que é ter um ser dentro de você, que respira o ar que você respira, que come o que você come, que se mexe dentro de você, que já sabe que você está falando com ele. É claro que nos tornamos mães desde o momento em que nosso óvulo é fecundado! Não leva muito tempo para que nos tornemos mais sensíveis, mais amaveis, mais, muito mais de tudo o que antes víamos em nossas mães mas não sabíamos muito bem o que era.
Claro que fui à homenagem. As mães que lá estavam bateram o pé e exigiram minha presença, afinal, eu já era mãe e elas, é claro, já sabiam muito bem disso. Percebi que só uma mãe pode entender a outra.
O mais engraçado não foi ganhar um vasinho de flores e ficar toda boba (apesar de só gostar das flores no jardim, devidamente plantadas), o engraçado foi perceber o quanto as coisas mudam depressa, porque há menos de 10 anos eu estava no colégio, fazendo homenagem com corações de cartolina à minha mãe. O mundo gira, não posso me esquecer disso.
É bom ser mãe. Não vejo a hora do mundo girar mais e mais e ver meu filho, com um coração torto de cartolina vermelho na mãozinha, cantando alguma música para mim...