terça-feira, 11 de novembro de 2008

A vida de Marcha Marolicha



Marcha Marolicha abriu os olhos naquela manhã cinérea de terça-feira e percebeu que havia algo errado. Aquele gosto amargo na boca que durava mais de uma semana estava mais intenso, além disso os olhos ardiam, como se quisessem chorar a todo custo. Ela calçou os chinelos e foi trôpega para o banheiro, eram 8 horas da manhã mas estava tudo tão cinza que ela pensou que tivesse levantado antes. Entrou na cozinha em busca do açúcar, precisava engolir algo doce para aliviar a sensação ruim dentro da boca!
Uma, duas, três colheres de açúcar e nada do azedume passar. Desistiu. Trocou a roupa, pegou a bolsa e saiu de casa... Havia algo de errado naquela manhã, onde estariam as pessoas? Eram mesmo 8 horas da manhã? Ela estava acordada? Tudo tão silencioso, vazio e cinza. E o amargo na boca persistia. A hora não passou, ainda eram 8 horas da manhã. Marcha sentiu uma angústia...definitivamente tinha algo errado! Como a hora não passar? Talvez fosse apenas a bateria pifada do relógio. Melhor deixar pra lá, ela pensou pela primeira vez naquele dia.
E houve um longo espaço em branco. Que foi deletado da vida de Marcha Marolicha...
Literalmente em branco, tanto é que nem eu sei o que houve. E nesse caso eu seria Deus, pois os escritores são oniscientes e onipresentes. Voltando à Marcha...
Ela se sentiu cansada. O dia estava no fim e ela não havia feito nada além de procurar alguém pela cidade. Ao sentar na praça ela avistou a presença de um senhor e ele não era cinza, o que mais chamou a atenção dela. Então Marcha correu ao encontro do senhor, que parecia totalmente apático a tudo o que acontecia ao seu redor, ou seja, nada.
- Boa...
- O que você quer?
- O que houve conosco? Estamos no céu?
- Jura que você acredita nessa besteira,menina?
- É que está tudo tão...
- Cinza?
- Exatamente! Cinza, vazio, silencioso... aonde foram todos, senhor?
- A canto algum, sua tola. Estão todos aqui.
- Como é? Estou cega?
- Não. Você é uma alma solitária. Não vê ninguém além de você mesma e quem é exatamente igual a você, nesse caso, eu...
- E eles não nos vêem?
- Claro que sim, menina fútil. Apenas não guardamos recordações sobre o tempo em que estivemos envolvidos com eles. Temos a sensação de um branco total.
- Eu me lembrarei do senhor?
- Pela eternidade. Provavelmente eu serei a única recordação que você terá.
- Mas por quê? Eu não quero isso!
- Não temos escolhas. Nascemos assim...nossa vida é cinza, não podemos pegar uma aquarela e colorir o mundo.
- Como o senhor sabe disso tudo?
- Eu vivo nesse mundo há mais de um século, sua tola. Algo eu deveria saber. Algo eu deveria te ensinar.
- Então eu estou triste?
- Não. Você é triste. E há muito para aprender, de resto...serei breve.

2 comentários:

Anônimo disse...

A vida de Marcha Marolicha "é" ou "está" cinza?
Se resume a abrir os olhos pela manhã e terminar a tarde falando com um velho ( não muito sábio),com um parênteses entre estes dois tempos, por quê?
Marcha sabe o que há no vácuo, né não?

bjos.
Tereza

DIARIOS IONAH disse...

ela precisava de ter uns gatos coloridos, como os meus,,,
assim a vida iria se parecer bela....